domingo

Homem vestido de mulherzinha



Há décadas, a mulher, não obstante sua condição social de oprimida, conquistou a liberdade de se vestir com roupas ditas masculinas, sem ser achincalhada ou mesmo violentada em público.

Não podemos dizer o mesmo do Homem. É impensável, mesmo nos nossos dias, homens (que não sejam travestis ou transexuais) vestirem, com liberdade, saias, vestidos, roupas curtas, rendas ou sapatos de salto-alto, sem serem até mesmo agredidos por outras pessoas.

Aonde reside essa diferença de conquista de liberdade, ao menos estética?

Condicionante prático é que roupas masculinas foram historicamente se adaptando ao trabalho, e nesse sentido, é compreensível que quando as mulheres também começam a servir ao Capital, desde o século XIX, adotassem, aos poucos, um vestuário mais próximo do masculino, historicamente.

Com isso, foi-se o tempo em que usar calças chocavam nossas avós e avôs.

Contudo ainda reinam duas simbologias que ditam essa permissão e proibição de trocarem de guarda-roupas.

O fato é que as roupas masculinas representam e carregam com si todos os símbolos de poder, austeridade, superioridade, dignidade e dominação que advém do papel do macho até os dias de hoje. A lógica é: ao me vestir como um rei, pareço com ele, tenho um pouco dos seus poderes. Desejo esse, já natural para um bom grupo de mulheres. Haja visto os inúmeros desfiles de moda, em que estilistas justificam a escolha de terninhos, e roupas sóbrias, como uma vontade de dar poder a mulher!

Nesse sentido, vestir-se como mulher(zinha), para o homem, ainda é absolutamente degradante, pois ser mulher ainda é degradante. Vestir-se como mulher é ser fútil, frívolo, frágil, delicado, ou louco, instável, desvairado, porque para os homens a mulher é tudo isso. Não há orgulho em vestir as roupas de ser tão dominado. A história do vestuário feminino é uma história de dominação e de servidão, e isso é mais do que sabido.

Pois somente com o fim desses predicados concebidos à própria mulher pelo homem, poderá ele um dia tomar com liberdade e naturalidade novos tipos de panos para se cobrir.

Feliz do dia em que teremos orgulho de usar saias, rendas ou salto-altos, pois elas representariam os reais adjetivos históricos das mulheres: serem muito mais justas, corajosas, altruístas e dignas.

Como era impensável, um dia, mulheres vestirem calças, e hoje isso não passa pela consciência das pessoas o menor assombro, será que também um dia os homens vestirão saias, decotes ou rendas, e isso passaria como absoluta normalidade? Lutemos por isso, uma vez que é lutar pelo fim dos significados dominantes e dominadores de masculinidade.

Por fim, uma homenagem a um homem que contribui imensamente para nossa libertação, o grande cartunista e revolucionário Laerte! 

segunda-feira

Álcool e amigos levam jovens (homens) à beira da idiotia

por Jairo Bouer


Na última semana, uma notícia publicada na Folha chamou a atenção para um caso de estupro de uma garota de 14 anos. Ela foi violentada por um grupo de quatro adolescentes e um rapaz de 20 anos, em Cascavel (PR). Além do crime, os jovens produziram imagens que foram parar no YouTube por cinco dias.
Muitos pontos para pensar! Primeiro: mais um crime bárbaro praticado por jovens. Na última semana, mstramos que os jovens no Brasil, hoje, são, muitas vezes, autores e vítimas de diversas formas de violência, inclusive a sexual. Depois, no depoimento à polícia, os jovens disseram que estavam bebendo quando a garota passou por eles.
O álcool, como se sabe, altera nosso controle sobre impulsos e sobre a avaliação do que fazemos. Não é à toa que o abuso de álcool está associado à boa parte de acidentes, de brigas e de outras violências. Um outro fator: na presença do grupo, infelizmente, acontecem com os garotos alterações de comportamento que beiram a idiotia. Valores e atitudes vão pelo ralo! Por que será que tanto garoto que é bem educado, gente boa e que controla seus atos e impulsos, na presença de outros "brothers", fica bobo, imaturo, agressivo, capaz de bater, estuprar e até matar? Será que é só para reafirmar a masculinidade? Será que é para mostrar que ele pode? Será que é para se exibir? Ou, talvez, tudo isso? E, como se não bastasse "cantar de galo" para os companheiros, não é que agora eles sentem necessidade de mostrar seus atos para todo o mundo, gravando vídeo e postando na internet? O que será que esperavam? Aplausos? Honras? Nada justifica a violência! E nada justifica uma agressão sexual, que pode marcar a vida de uma pessoa para sempre.
Os envolvidos devem ser punidos pelos crimes, e a gente tem de refletir sobre qual é a educação que pode fazer com que muitos garotos deixem de olhar para os outros como simples objetos da reafirmação de suas inseguranças e de sua precária masculinidade. Triste!

Originalmente publicado na Folha de S. Paulo de 29/08/2011. Agradeço ao Jairo por permitir essa publicação.

sábado

Viva o Equador!!

Caros amigos,

Enquanto estamos as voltas com mais e mais casos de feminicídio no Brasil. Vou postar aqui uma série de seis vídeos inacreditáveis que o governo do Equador está fazendo para combater o Machismo, chamado: REACCIONA ECUADOR: EL MACHISMO ES VIOLÊNCIA.

Sobre outros modos de viver a masculinidade:

Sobre a violência contra a mulher:

Sobre a reprodução e educação dos comportamentos machistas:

Sobre o homem das cavernas:

Sobre o machismo nas mulheres:

Sobre o museu do futuro:

sexta-feira

DiM! no Ar!

O Blog Diversidade Masculina está no ar! Na luta pelo fim da opressão à mulher, à criança, ao idoso e ao homossexual, o Dim! encampa a batalha por um mundo justo e igualitário, com múltiplas possibilidades de ser homem, que respeita, admira e defende a diversidade, e não agride, corrompe, constrange, nem oprime ninguém!

sábado

Por casas de apoio ao Homem!

Uma história recorrente acontece todos os dias na vida de muitos jovens adolescentes pelo Brasil afora. Eles saem de casa, fugidos ou expulsos pela tirania familiar, que não suporta a presença de um homossexual.

Contrários a orientação sexual desses jovens, por não conseguirem reverter esse “comportamento” e nem aceitá-lo, muitos pais preferem botá-los para fora de casa, do que conviver com essa diferença.

Os jovens, principalmente das famílias pobres, vão muitas vezes migrar para grandes centros, ou morar pelas ruas, e se envolver com atividades ilícitas para sobreviver. Pela situação de fragilidade em que vivem, muitos se envolvem em uma espiral de degradação que os leva beira da morte.

Não existe, contudo, uma única política pública de amparo a esse problema. Por isso é urgente a criação de mecanismos de assistência a esse jovem rapaz que se encontra, por força da discriminação, em situação de risco.

De modo correlato às casas de abrigo de mulheres vítimas de violência, é mais que necessário a criação de casas de abrigo a jovens desabrigados vítimas de discriminação. Casas que tenham toda a estrutura apara ampará-lo psicologicamente e socialmente, com psicólogos, assistentes sociais e auxílio ao término dos estudos e à profissionalização.

O DIM! encampa essa luta e batalha por essa política que ainda é inédita no Brasil!

segunda-feira

EMO, por que não?



As tribos juvenis dominam a história recente da adolescência. Fabricadas pelo mundo do consumo ou não, elas representam – dentro de como se estruturou a construção da subjetividade na contemporaneidade – um importante lugar, para os jovens, na formulação de sua identidade e na diferenciação frente à sua família. São raros os adolescentes hoje em dia que se constituem não se valendo de tais grupos.

O mais famoso deles, atualmente, é o dos EMOs. Abreviação de Emotional Hardcore, o EMO é, como muitos outros grupos, oriundo do mundo rock. Contudo, ele se difere dos inúmeros predecessores – como os clubers, grunges, indies, punks... – por possuir um padrão comportamental demasiadamente sentimental, introspectivo e frágil, que por isso mesmo causa repúdio e discriminação principalmente no padrão machista de masculinidade.

A música EMO possui letras introspectivas e sentimentais, um andamento desacelerado e melodias bem acentuadas frente ao Hardcore. O visual típico EMO consiste em trajes pretos, trajes listrados, Mad Rats (sapatos parecidos com All-Stars), cabelos coloridos e franjas caídas sobre os olhos e é extremamente andrógino. Os EMOs são ainda, de modo inédito (talvez só encontre semelhança nos eternos góticos), muito respeitosos quanto a diversidade sexual.

Esse conjunto de características é uma afronta ao padrão dominante de masculinidade, uma vez que “homens de verdade” NUNCA poderiam ser: frágeis, sentimentais, introspectivos, e muito menos se vestirem parecidos com mulher. O crime mais absurdo seria ainda o do alisamento do cabelo e o uso de maquiagem no rosto! Onde já se viu!

Por tudo isso, é preciso festejar a ampliação do repertório da masculinidade que esse grupo juvenil traz para nossa sociedade! E combater, diuturnamente, a violência verbal e física que os adolescentes EMOs sofrem, por parte de outras tribos juvenis, por outros homens e pelos próprios pais, na escola, nas ruas ou nas festas. Talvez seja uma esperança para uma sociedade menos opressora a existência desse grupo, que é tão conflitante aos modos de ser vigente, e representam, sem dúvida, um grande avanço para uma real diversidade masculina!

quinta-feira

Abaixo às calças!


Falamos muito do que o homem faz as outras pessoas, mas tratemos agora dos muros que se constroem contra o próprio homem.

O machismo construiu para o homem um sólido modo de ser e se comportar, que, por vezes, parece ser mais difícil de ser demolido do que o que ele construiu para a mulher.

Um homem, em pleno ano de 2010, em uma empresa que se considera moderna, foi proibido de trajar bermudas... Nem entraremos nas questões ecológicas e ambientais que incidem também sobre esse tema: a de em um país tropical reproduzir hábitos europeus à custa de muito ar-condicionado, para nos resumirmos aos símbolos que produziram e emanam dessa proibição.

Para tal compreensão hegemônica de homem, a imagem a ser construída é a da seriedade, do respeito, do poder, e da capacidade de provimento. Para isso, é necessária uma sobriedade que não admite certas roupas e comportamentos mais extravagantes, principalmente no famoso “ambiente de trabalho”. Posturas tímidas ou retraídas, homens afeminados demais ou roupas exageradas são logo reprovadas... Contudo, parece ser uma agressão a essa imagem de seriedade, a exibição, pelo homem, de seu próprio corpo. Nesse campo as mulheres já conquistaram mais liberdade que nós e derrotaram alguns preconceitos: mostrar as pernas ou os ombros não mais as qualifica como pessoas indignas de respeito... Para o homem, contudo, está proibido! Mostrar sua singela panturrilha, ao trajar uma bermuda, é um assassinato de reputação! Não há seriedade que possa ser mantida com alguém de bermudas... Não se respeita um homem que não esteja de calças!

É inacreditável o preconceito e o atraso que sofremos... Como está longe o horizonte da liberdade para o homem. Um horizonte em que ele possa ser julgado pelo seu caráter e por suas atitudes, e não pelas calças que veste. A diversidade masculina é mais que nunca uma defesa pelo bem do próprio homem: de ser respeitado, não por sua imagem de poder, mas pelo que realmente é.

Elisa Samudio: ela mereceu!




Não se sabe onde está Elisa Samudio, não se sabe quem a matou. Mas tomemos a hipótese de que várias pessoas participaram de seu assassinato, para uma breve reflexão.

É muito comum no universo masculino a curra, mais do que pensamos. É muito comum um grupo de adolescentes ou adultos coagirem uma garota, ou mesmo forçarem uma mulher a fazer sexo com eles. Garotos ou homens que muitas vezes tem reputação ilibada ou uma conduta “ordeira”, participam de tais orgias geralmente sob a justificativa moral de que a garota "merece", uma vez que essa garota invariavelmente tem uma reputação de promíscua. Já que uma mulher tem a ousadia de desejar, de querer sentir prazer, ela deve ser, portanto, castigada ou punida: “ter o que merece”.

Essa análise é um tanto quanto conhecida, mas trago ela para ressaltar o poder social que ela possui, e que justifica e dá força à posturas opressivas. Esse discurso escondido autoriza nós, homens, a cometer, vez ou outra, essa “indisciplina”, pois às vezes, algumas mulheres, “merecem” isso. A hipótese de que Elisa tenha sido morta, de modo planejado, por um grupo de homens, aponta para um feminicídio dessa ordem. Esse caso deixa claro que essa violência não tem nada de passional. Trata-se de eliminar uma mulher “desonrada” que ousou ter direitos.

Elisa, como sabemos, era atriz de filmes pornográficos, o que facilmente poderia lhe caracterizar como desprezível, vulgar, inferior, logo, sem méritos para pleitear algum direito, principalmente àqueles da maternidade. Esse discurso social, velado, mas potente, dá força à ações brutais como desse caso. Ela também “mereceu essa punição”, compreensão essa compartilhada por vários homens que participaram desse ato de barbárie. Não existe aí ato impensado, nem mesmo arrependimento, pois se têm a “certeza da lição dada uma vagabunda”.

É fundamental descobrir os caminhos do machismo e seus convencimentos, pois, em maior ou menor grau, os reproduzimos.

sexta-feira

Mais um feminicídio filmado: Maria Islaine assassinada

Desgraçadamente, mais um homem levou a cabo o que aprendeu. Uma mulher que é “sua”, nunca poderá deixar de ser "sua" por vontade própria - a menos que o próprio homem decida por isso. Uma mulher não pode ter desejos, vontades, liberdade. Quando um ser oprimido se atreve a ter alguma vontade outra que não àquelas de seu dominador, o que lhe espera é a punição severa. Mais uma vez não é paixão, muito menos amor, portanto risquemos de nosso discurso o tal do crime passional. O assassino não amava a cabeleireira – ele simplesmente não podia tolerar que ela fosse livre. E a lição que deu a ela foram os sete tiros que enterraram tal ousadia.

Aprendemos isso: a bater em quem não nos subordina. Às vezes, quando mais polidos, usamos a manha, a intransigência ou a chantagem (emocional, financeira, física), e às vezes, quando estamos no limiar da perda de nosso reinado, preferimos a violência e o revólver.

Superman?


Redefinir, desconstruir e desmascarar a ânsia de poder que existe por detrás da forma atual de ser homem. Eis um de nossos propósitos.

domingo

Loucura ou normalidade?

Durante o terceiro dia de sequestro de Eloá, em Santo André, o jornal Metrô News levou a milhares de usuários do Metrô de São Paulo a seguinte manchete de capa: "Loucura de amor já dura três dias". Nossa mídia, com raríssimas excessões, tratou mais esse caso de femicídio, como um ato extremado de uma pessoa que ama. Com essa atitude, ela compactua com mais e mais mortes de mulheres que acontecem em todos os cantos do país, em todas as classes sociais.

Lindenberg não cometeu um crime passional, ele puniu uma jovem mulher por ela não querer continuar como sua companheira. Ele foi autorizado pelo discurso latente da sociedade que autoriza o subjulgo de qualquer mulher pelo seu namorado. Ele não cometeu uma loucura, ele cometeu uma normalidade.

Conjuntamente a essa atitude da imprensa brasileira, se portou do mesmo modo a polícia militar paulista - acostumados aos padrões mais conservadores de masculinidade. Eles, todo o tempo, subestimaram um assassino de mulheres em potencial.

Tudo muito, muito triste